No ano seguinte dá-se início a saga de outra parte de minha família, quando meu tataravô Salvatore Cocco e minha tataravô, Pasqua Maria Idile, juntamente com seus filhos Maria Cocco, Andrea Cocco, Vittoria Cocco e Bernardo Cocco, meu bisavô, que contava com 11 anos de idade, também todos oriundos da aldeia de Tissi, Sassari Sardenha, percorreram uma longa distância até Cagliari e de lá até Genova, onde no fim do ano de 1897 embarcavam no Vapor Espagne rumo ao Brasil, tendo desembarcado no Porto do Rio de Janeiro e foram levados de trem até Juiz de Fora, onde chegaram, em 16.12.1897, tendo sido contratados por Ernestos Bastos e partiram, em 28.12.1897, rumo a Fazenda Guarany, localizada em São José de Além Paraíba, atual Juiz de Fora.
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Vapor Espagne |
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Certidão de Nascimento - Bernardo Cocco |
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Página do Livro da Hospedaria dos Imigrantes Horta Barbosa, de Juiz de Fora
onde está registrado a Família Cocco/Idile.
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Ambas as famílias passaram a habitar em locais próximos e tinham muitas particulares em comum, pois eram ambas sardas e da aldeia de Tissi, o que levou a um grande entrosamento entre eles. Tanto que, anos mais tarde Antonietta Scarpa casou-se com Bernardo Cocco.
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Antonietta Scarpa |
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Antonietta Scarpa |
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Bernardo Cocco, que fugindo a regra dos sardos, possuía belos
olhos azuis |
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Meu pai (bebê), minha avó e meu bisnonno, Bernardo Cocco |
Do casamento nasceu Penha, Maria, Paulino, Angelina, Nilton, Nair, meu avô, José e Nadir.
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Eu e meu avô, José, filho de Antonietta e Bernardo |
Após o casamento, Bernardo Cocco foi trabalhar na propriedade adquirida por seu sogro, Giovanni Battista Scarpa, que possuía uma estória de vida muito distinta da maioria dos imigrantes daquele tempo. Na verdade, ele não estava dentre as levas de miseráveis italianos que chegavam todos os anos ao Brasil, mas era de família abastada, proprietária de posses na Itália e trouxe dinheiro para recomeçar com sua esposa e filhas uma nova era em sua vida.
Entretanto, anos mais tarde, com a crise do café, meu tataravô perdeu a propriedade que possuía, onde havia aplicado todo o dinheiro da família e ele e os filhos, genros e noras percorreram algumas cidades de Minas Gerais até partirem para o Rio de Janeiro.
Nesse ínterim faleciam meus tataravôs Salvatore Cocco e Pasqua Maria Idile.
Todos esses anos em que permaneceram no Brasil, minha bisavó, Antonietta Scarpa, continuava a manter contato com seus parentes que permaneceram na Itália por meio de carta e, com a ajuda de meu avô, que possuía boa caligrafia, ela respondia a todas as cartas. Meu avô sempre me falava do endereço, Sassari, Via Roma.
No final da década de 60 a família foi abatida por um evento terrível. A irmã de meu avô, Penha, havia se casado com um homem de conceituada e abastada família do município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, entretanto, seu marido juntamente com sua amante armou uma emboscada para a mesma e assassinou-a com um tiro a queima roupa no ouvido. Apesar do acontecido ter se dada em via pública e muitas terem sido as testemunhas nenhuma justiça foi feita, falando mais alto o prestígio e o dinheiro do assassino. Naqueles dias os pais de meu avô, na qualidade de cidadãos italianos pediram ajuda do Consulado Italiano no Rio de Janeiro, mas nenhuma ajuda receberam.
Depois disso minha bisavó nunca mais foi a mesma, caiu em tristeza profunda, passando a apresentar moléstias cardíacas.
No ano de 1973 recebeu uma carta do Consulado requisitando que ela e sua irmã Maria fossem ao Consulado tratar de assuntos do seu interesse. Meu avô, filho mais próximo, acompanhou minha bisavó que, lá chegando receberam a notícia de que haviam herdado uma fazenda, visto que seu pai, real proprietário da mesma, já havia falecido e a terra necessitava que fosse regularizada a sua propriedade. Nessa ocasião o Cônsul, que os atendeu em pessoa, ofereceu passagens para elas e todos os seus para que, se quisessem, retornassem à Itália e fossem tomar posse de sua propriedade, uma vez que a mesma era fértil e poderiam tirar seu sustento da mesma.
Meu avô me conta que viu os olhos de sua mãe brilhar mais uma vez com a possibilidade de voltar a sua terra natal, onde se recordava de uma infância feliz, já que a vida aqui no Brasil lhe fora muito penosa e dolorosa. Entretanto, minha bisavó já estava em idade avançada, acometida de muitas moléstias e todos os seus filhos e filhas já haviam constituído família, possuíam trabalho, estavam estabelecidos, assim ninguém quis ir para a Itália com sua mãe e muito menos acharam por bem deixarem que ela retornasse sozinha. Dias depois da ida ao Consulado minha bisavô recebeu uma carta de uma tia pedindo para que não vendessem a fazenda, uma vez que ela e sua família moravam naquelas terras e dela tiravam seu sustento. Assim, decidiu-se por dar a terra em usufruto à família, pois assim os que lá estavam ficaram amparados, uma vez que foram eles quem cuidaram dela por todos esses anos e nada mais justo do que a mesma continuar com eles.
Pouco tempo mais tarde minha bisavô veio a falecer em decorrência de um enfarte, seguido de meu bisavô. As cartas que vinham da Itália pararam e todo e qualquer contato com os parentes de lá fora perdido.
Meu avô se ressentia de não ter realizado o último desejo de sua mãe, retornar a Itália, a sua terra natal.
Eu sempre fui a neta mais próxima e gostava de ouvir repetidas vezes toda essa estória e sentia muito orgulho de minhas origens.
Quando me tornei adulta e passei a trabalhar, no Centro do Rio, realizei um antigo sonho, o de aprender a língua italiana. Assim, me matriculei no Instituto Italiano di Cultura, curso do Consulado da Itália no Rio de Janeiro.
Sempre que possível ia à biblioteca e acabei por fazer amizade com a bibliotecária.
Em uma conversa a confidenciei que era descendente de sardos e relatei toda a história que eu conhecia. Ela me perguntou porque eu não tentava procurar as pessoas ou, os descendentes destes, com quem minha bisavó se correspondia e me falou de um site chamado Pagine Bianche, espécie de lista telefônica, no qual digitando o sobrenome, a rua e a cidade eu poderia achar o nome completo, endereço e telefone da pessoa.
Assim, eu fiz. Para minha surpresa localizei na Via Roma de Tissi, 3 pessoas que poderiam ser meus parentes.
Mediante tudo isso, escrevei uma carta para cada família contando minha estória, anexando os documentos que eu tinha e disse que eles poderiam ser meus parentes. Enviei todos os meus meios de contato e, passados pouco mais de 20 dias, recebi um e-mail de uma senhora que se apresentou como amiga de uma das pessoas para quem enviei as cartas. Tudo isso se deu, em abril de 2008 e desde então nunca mais perdi contato com eles.
Eles percebendo a minha curiosidade se predispuseram a realizar uma pesquisa junto ao cartório da cidade e ver se encontravam algo que pudessem nos dar alguma confirmação de nosso parentesco.
Nesse ínterim me convidaram para conhecer a cidade e me indicaram o mês de maio, mês em que é primavera na Sardenha, é a festa da padroeira de Tissi, Santa Vittoria, e há a Cavalcata Sarda, em Sassari.
Meu avô ficou super animado com a pesquisa que eu estava fazendo, resgatando as suas origens e realizando o último desejo de sua mãe e que passou a ser dele também. Era o sonho que compartilhávamos. Infelizmente, meu avô faleceu em 06 de janeiro de 2010, sem ter havido a possibilidade de ir comigo a terra de seus pais.
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